quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O Brasil tem que começar a fazer jus à potência ambiental que é"

03/09/2008 - 11h09
"O Brasil tem que começar a fazer jus à potência ambiental que é", diz Marina Silva em evento

O Funbio – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, promoveu na última sexta-feira o IV Diálogos Sustentáveis. Com o tema "Além da compensação: como superar impactos e fazer negócios positivos para a biodiversidade", a quarta edição do programa, que contou com o apoio da Alcoa, reuniu cerca de 130 convidados, entre empresários de diversos segmentos, representantes de ONGs e profissionais especialistas no assunto.

A conversa foi liderada por Ricardo Henriques, do BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; Kerry ten Kate, diretora do Programa BBOP – Business and Biodiversity Offsets Program (Programa de Compensação Voluntária para Negócios e Biodiversidade); e Roberto Waack, presidente do Conselho Consultivo do Instituto ARES para o Agronegócio Responsável. A senadora Marina Silva se destacou no papel de debatedora do evento, assim como Bráulio Dias, diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente e Paulo Adário, diretor da campanha Amazônia do Greenpeace.

Guilherme Leal, co-fundador da Natura e presidente do Conselho Deliberativo do Funbio, foi o responsável pela abertura do evento. Em seguida, passou a palavra para Pedro Leitão, secretário geral do Funbio, que anunciou a parceria do fundo com o BBOP, um programa internacional de compensações voluntárias para o impacto sobre a biodiversidade, chancelado pela Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), do qual o Brasil faz parte. Pela parceria, o Funbio figura entre as 600 organizações no mundo que já participam do programa.

Kerry ten Kate, diretora do BBOP, falou sobre os objetivos do programa ao redor do mundo: com 67 projetos-piloto em diversos países em setores como gás, petróleo e mineração, o BBOP busca ampliar o comprometimento das empresas com uma nova visão de sustentabilidade, que leve em conta a preocupação de ir além das atividades de mitigação de impactos e do pagamento de compensação necessários ao processo de licenciamento. "Aqui no Brasil queremos ampliar a experiência para o agronegócio. Nossa atuação consiste em disseminar ferramentas e diretrizes básicas para que as empresas entendam que é possível crescer e, ao mesmo tempo, conservar a biodiversidade", explicou.

Roberto Waack, do Instituto ARES, ressaltou que a iniciativa do BBOP relaciona a biodiversidade à pobreza, uma entre tantas complexas questões relacionadas à compensação. "Quando o BBOP aborda a questão da redução da pobreza, está sugerindo uma nova forma de valoração, que considere os ativos de conservação associados ao componente social, que geralmente não são percebidos como valor e aumentar a amplitude dessa percepção. Assim, seriam contempladas as populações que vivem nas regiões onde se instalam os empreendimentos, e que sofrem pressões econômicas quando os ativos da biodiversidade são convertidos em uma nova atividade produtiva. "É preciso que este valor, além de amplamente perceptível pela comunidade internacional, seja de alguma forma distribuído, contemplando a questão da redução da pobreza local", enfatiza.

Para Ricardo Henriques, do BNDES, o evento mostrou-se como um reflexo da disponibilidade de enraizamento dos diálogos na sociedade. Pedindo desculpas antecipadas ao neologismo, Henriques lembrou que o Brasil precisa sair da agenda do "crescimentismo" que, para ele, é o crescer pelo crescer, sem se importar com o ambiental e o social, e salientou que o banco tem trabalhado para garantir, por meio de seus serviços, crescimento econômico com redução das desigualdades sociais e redução dos riscos ambientais. "Além de contar com linhas de crédito diferenciadas para as empresas que têm projetos focados em sustentabilidade, o BNDES está atento às empresas que já conseguiram recursos da instituição e que na implementação das suas atividades deixam de cumprir os critérios de responsabilidade social, como trabalho infantil, escravo etc. Se porventura isso se comprova, os contratos são suspensos". Ao demonstrar grande interesse na parceria com o BBOP, Henriques afirmou que o BNDES está disposto a financiar projetos que levem em conta o mecanismo de compensação e assegurou que "as empresas que aderirem a essas iniciativas terão seus riscos reduzidos em caso de avaliação para financiamentos de projetos pelo BNDES entre outras instituições financeiras", reforçou.

Em sua fala, Marina Silva, senadora pelo estado do Acre, elogiou o formato do evento, salientando a necessidade da substituição do debate pelo diálogo, e defendeu o modelo de coexistência na questão ambiental. Para Marina, o ideal é transitar de uma atuação voltada à idéia de confronto e defesa para um posicionamento de visão de valores. "O país tem de começar a liderar pelo exemplo. Estamos 30 anos à frente no debate dos biocombustíveis, e mesmo com as dificuldades que ainda temos, devemos celebrar nossas conquistas. O Brasil tem que começar a fazer jus à potência ambiental que é, e nesse aspecto as empresas são fundamentais para ajudar a levar essa cultura para outros países, porque a biodiversidade é no planeta e não em alguns países. Temos sim capacidade de desenvolver um novo modelo de produção de carne, grãos e biocombustíveis com foco na sustentabilidade", disse.

Segundo o secretário-geral do Funbio, Pedro Leitão, um grupo de trabalho será montado no Brasil, com especialistas técnicos em biodiversidade e profissionais de setores impactantes, especialmente agronegócio e mineração, atividades econômicas com alto potencial de impactos na biodiversidade e, por isso, prioritárias no âmbito do BBOP. "O grupo deve definir estratégias de mobilização destes e de outros segmentos empresariais com os quais queremos trabalhar as ações de compensação voluntária, apontando caminhos possíveis para conciliar bens de consumo e proteção do patrimônio natural, gerando equilíbrio ambiental, trabalho, renda e inclusão social", salienta Pedro.

Um dos grandes benefícios da parceria do Funbio com o BBOP para o setor privado brasileiro será a possibilidade de participar de um programa internacional e multi-setorial. São integrantes do BBOP empresas como Shell, Rio Tinto e Newmont, além de ONGs como Conservação Internacional, World Conservation Society e Forest Trends.

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