quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Meio Ambiente que está atrapalhando a COP-15.

Após acompanhar as discussões, discursos, reportagens, twitter, blogues e jornais, cheguei à conclusão que o grande problema desta Conferência Internacional sobre o Clima é o Meio Ambiente.
Onde já se viu um Meio Ambiente que atrapalha os interesses dos mais ricos, traz mais sofrimento aos pobres, que mata milhares de pessoas anualmente, que poderá deslocar milhões de pessoas nos próximos anos, que causa fome, enchentes e secas. Nós estávamos com a vida tão bem conduzida, alguns enriquecendo, outros deixados ao deus dará!! Tudo parecia tão bom (aos olhos de alguns)! Agora surge o Meio Ambiente e estraga nosso mundo perfeito. Apesar de horas de negociação, não há consenso, pois sempre tem alguém dizendo que o meio ambiente em algum lugar está sendo degradado.
Eu tenho uma sugestão muito simples para resolver as questões da COP-15, é só acabar com o Meio Ambiente e pronto! Acaba-se a discussão!!! E vamos todos para casa, vivemos nossas vidas e o futuro resolverá!
Ironias, à parte, os discursos dos lideres mundiais na COP-15 são muito bons, alguns excelentes, cheios de boa intenção, clamando por atitudes de mudança e dizendo que o futuro irá condenar aqueles que não tomarem as atitudes.
Mas até o momento, (quinta-feira) as palavras não têm representado ações. As negociações estão duríssimas, os países mais ricos e desenvolvidos, em grande parte, estão irredutíveis e querem socializar os custos financeiros com os países em desenvolvimento. Todos querem salvar o planeta, desde que ‘SEUS” interesses sejam protegidos (e do resto que se vire), mudanças sem sacrifícios. China, Brasil, Índia, África do Sul e Rússia não querem sair com as mãos abanando e ainda ter que assumir custos dos planos de adaptação. Os países insulares gritam, próximo ao desespero, pela importância de um acordo, pois o risco de extinção de seus territórios é grande.
Na década de noventa havia um gênio do basquete chamado Michel Jordan, que estava voltando de um período de aposentadoria. Na temporada, sua equipe havia feito uma temporada mediana e ele parecia longe de sua melhor forma. No inicio da etapa decisiva, um repórter perguntou sobre seu desempenho: Sua resposta foi clara: “Neste momento é que separamos os homens dos meninos”. Jordan, depois das semifinais e finais, foi campeão e o escolhido o melhor jogador.
Os lideres internacionais terão que assumir seu papel de liderança e tomar atitudes nas próximas horas, chegou o momento de assumir os desafios dos grandes momentos da história. A bola do jogo da preservação do planeta está nas mãos deles. Eu não acredito em um desastre em COP-15, pois isto teria um impacto muito destrutivo na política em muitos países. Apesar de o dia muito pessimista a esperança é que alguns líderes tragam sinais de que é possível um acordo. É hora de aparecer os homens dispostos a construir o futuro, não há espaço para meninos neste momento.
Chegou a hora de que um grupo de nações questionarem os países ricos e desenvolvidos para que assumam suas responsabilidades e os custos de suas riquezas e benesses e iniciar um novo o processo de recuperação do meio ambiente e um estilo de vida que seja equilibrado com os recursos disponíveis.
Pode parecer muito, mas é o que precisa ser feito, não se espera nada menos.
Nossas orações para que Deus quebre corações em Copenhague!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Na COP-15, tá chegando a hora da Onça beber água!!!

Na COP-15, tá chegando a hora da Onça beber água!!!

“A sabedoria é encontrada na multidão de conselhos”
Normalmente grandes conferências e cúpulas internacionais são conduzidas com enorme morosidade e sem muitos sobressaltos.
Portanto no quesito surpresas a COP-15 tem sido única, por estar sendo tão agitada e com tantos acontecimentos diferenciados.
Nos últimos dias começaram a surgir as primeiras situações singulares de um evento deste porte:
Exemplos: Brasil e China se escondendo atrás de países como Sudão, Burandi, Ilhas Maldivas para que possam receber recursos que serão destinados aos países mais ameaçados pelas mudanças climáticas. Claro que os países emergentes (Brasil, China e Índia) tem seus problemas e necessitam também de investimento, mas se comparar aos países mais pobres do mundo é muito incoerente.
EUA tem se posicionado de forma concreta, unilateral e de certo modo arrogante (isto é ser americano) em não querer assumir compromissos com recursos e metas, enquanto China, Brasil e Índia não assumirem algum tipo de controle de suas emissões. Depois de 200 anos poluindo o mundo e usufruindo da riqueza, a proposta americana é socializar os custos. Desta forma, apenas piora o dialogo com os países em desenvolvimento.
União Européia e Japão estão esperando para ver aonde vão os americanos e ficam em cima do muro, dando muitos números, mas apenas confirmando se os americanos derem uma luz no final do túnel. Se os EUA optarem em não fazer. Então estes não nada, deixaram tudo como é que está e para ver o que acontece.
Porém alguns países seriamente ameaçados e literalmente tendo o risco de terem água até o nariz, estão realmente interessados que haja propostas sérias. Tuvalu, arquipélago no Pacifico, obstruiu a Conferência e pediu seriedade dos países ricos, pois a existência deles como nação está em risco.
Assim, as negociações caminham, hoje saiu uma primeira versão de um documento que será avaliado pelos chefes de estado, na próxima semana.
É um documento com pontos bem importantes, que não vou detalhar neste espaço (para ver mais seja o link: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/diretodecopenhague/texto-cop15-detalhes-212679_post.shtml), mas que permite avaliar que existe alguma esperança na COP-15.
Desta forma, uma primeira etapa foi cumprida pelos diplomatas. Há um documento na mesa! Agora mais 2 dias, de mais negociação, para acertar os pontos deste documento.
Salomão, em seus provérbios sempre nos advertia para buscarmos sabedoria e bons conselhos. Com os mais experientes, mais sábios e com muitos conselheiros. Sempre com o intuito de mostrar que ninguém tem a verdade absoluta e o conhecimento completo, mas que ouvindo, conversando e debatendo com os demais encontraremos a sabedoria.
Uma verdade já é certa, enquanto os americanos não definirem quais as suas reais intenções, o compasso de espera continua.
Ah! Mais o relógio das mudanças climáticas não espera.......

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

COP-15. Isto faz parte de minha vida?

COP-15. Isto faz parte de minha vida?

Ontem (7) iniciou a COP-15 (Conferência das Nações Unidas sobre o Clima) em Copenhague, na Dinamarca.

Você deve estar perguntando: “O quê que eu tenho haver com o isto?”.

TUDO. Esta é uma das reuniões mais importantes desde a Segunda Guerra Mundial, há sessenta anos. Cento e dez lideres de nações estarão participando para encontrar alternativas e se iniciará uma mudança radical de como conhecemos o mundo hoje. Boa parte do que existe no modelo atual (carros, casas, eletrodomésticos e outros), não estará aqui daqui 30.

O Clima está mudando e como vamos reagir a isto? Como iremos diminuir as emissões de gases que proporcionam maiores mudanças ao clima? Como iremos apoiar os países e povos que serão mais afetados pelos problemas? Como será afetado meu país, minha cidade?

São muitas perguntas e uma parte delas está sendo discutidas neste evento e isto irá influenciar, e muito, toda humanidade.

Mas a vida vai continuar da forma do jeito que está!- dirão alguns. Mas a mudança ocorrerá quando você e eu tomarmos atitudes concretas de mudança em nosso estilo de vida.

Em Genesis 2:15, Deus coloca o homem no Jardim para cuidar e cultivar, portanto um dos primeiros mandatos de Deus para a humanidade e cuidar do jardim que Deus acabara de criar.

Portanto, a urgência de avaliar, que nossa fé nos leva a um cuidado da criação como resposta ao chamado de Deus, temos que nos alinhar as discussões que estão ocorrendo em Copenhague.

Como cristãos temos que participar de forma ativa e mostrar que somos compromissados em cuidar da Criação de Deus.

Apesar do otimismo e das frases de efeito do dia de abertura a realidade hoje mostrou-se bem mais dura.

Com o inicio das negociações, houve uma grande discussão sobre como será o repasse de recursos financeiros para os países que serão mais atingidos pelas mudanças climáticas. Infelizmente os países ricos preferem gastar trilhões de dólares para salvar bancos, do que salvar pessoas e locais em risco.

Houve um certo constrangimento com a divulgação de um documento, feito pela Dinamarca, que não foi discutido com os países mais pobres os quais colocam termos muito questionáveis, apesar dos diplomatas dizerem que este documento já estava descartado. Houve muito discussão e “chiadeira”, mas um interesse em continuar tentando apesar deste contexto.

Nossas orações e preces por sabedoria as negociadores serão muito importantes, pois Deus pode aplainar caminhos.

Amanhã voltarei com mais sobre a COP-15.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O individualismo tem ainda futuro?

16/10/2009 - 12h10
O individualismo tem ainda futuro?

Por Leonardo Boff*

“Hoje precisamos de uma hiperdemocracia que valorize cada ser e cada pessoa e garanta a sustentabilidade do coletivo que é a geosociedade nascente”, escreve Leonardo Boff, teólogo. Segundo ele, “o arraigado individualismo (dos EUA) projetado para o mundo se mostra absolutamente inadequado para mostrar um rumo para o “nós” humano. Esse individualismo não tem mais futuro”.

Eis o artigo.

Há hoje nos EUA uma crise mais profunda do que aquela econômicofinanceira. É a crise do estilo de sociedade que foi montada desde sua constituição pelos “pais fundadores”. Ela é profundamente individualista, derivação direta do tipo de capitalismo que ai foi implantado. A exaltação do individualismo ganhou a forma de um credo num monumento diante do majestoso Rockfeller Center em Nova York, no qual se pode ler o ato de fé de John D. Rockfeller Jr:”Eu creio no supremo valor do indivíduo e no seu direito à vida, à liberdade e à persecução da felicidade”.

Em finas análises no seu clássico livro “A democracia na América”(1835) o magistrado francês Charles de Tocqueville (1805-1859) apontou o individualismo como a marca registrada da nova sociedade nascente.

Ele sempre foi triunfante, mas teve que aceitar limites devido à conquista dos direitos sociais dos trabalhadores e especialmente com surgimento do socialismo que contrapunha outro credo, o dos valores sociais. Mas com a derrocada do socialismo estatal, o individualismo voltou a ganhar livre curso sob o presidente Reagan a ponto de se impor em todo o mundo na forma do neoliberalismo político. Contra Barack Obama que tenta um projeto com claras conotações sociais como a saúde para todos os estadounidenses e as medidas coletivas para limitar a emissão de gases de efeito estufa, o individualismo volta a ser reproposto com furor. Acusam-no de socialista e de comunista e até, num Facebook da internet, não se exclui seu eventual assassinato caso venha a cortar os planos individuais de saúde. E note-se que seu plano de saúde nem é tão radical assim, pois, tributário ainda do individualismo tradicional, exclui dele todos os milhões de imigrantes.

A palavra “nós” é uma das mais desprestigiadas da sociedade norteamericana. Denuncia-o o respeitado colunista do New York Times, Thomas L. Friedman num artigo recente:”Nossos lideres, até o presidente, não conseguem pronunciar a palavra ‘nós’ sem vontade de rir. Não há mais ‘nós’ na política norteamericana numa época em que ‘nós’ temos enormes problemas - a recessão, o sistema de saúde, as mudanças climáticas e guerras no Iraque e no Afeganistão - com que ‘nós’ só podemos lidar se a palavra ‘nós’ tiver uma conotação coletiva”(JB 01/10/09).

Ocorre que por falta de um contrato social mundial, os EUA comparecem como a potência dominante que, praticamente, decide os destinos da humanidade. Seu arraigado individualismo projetado para o mundo se mostra absolutamente inadequado para mostrar um rumo para o “nós” humano. Esse individualismo não tem mais futuro.

Mais e mais se faz urgente uma governança global que substitua o unilateralismo mocêntrico. Ou deslocamos o eixo do “eu” (a minha economia, a minha força militar, o meu futuro) para o “nós” (o nosso sistema de produção, a nossa política e o nosso futuro comum) ou então dificilmente evitaremos uma tragédia, não só individual mas coletiva. Independente de sermos socialistas ou não, o social e o planetário devem orientar o destino comum da humanidade.

Mas por que o individualismo é tão arraigado? Porque ele está fundado num dado real do processo evolucionário e antropogênico, mas assumido de forma reducionista. Os cosmólogos nos asseguram que há duas tendências em todos os seres, especialmente nos vivos: a de auto-afirmação (eu) e a de integração num todo maior (nós). Pela auto-afirmação cada ser defende sua existência, caso contrario, desaparece. Por outro lado, nunca está só, está sempre enredado numa teia de relações que o integra e lhe facilita a sobrevivência.

As duas tendências coexistem e juntas constroem cada ser e sustentam a biodiversidade. Excluindo uma delas surgem patologias. O “eu” sem o “nós” leva ao individualismo e ao capitalismo como sua expressão econômica. O “nós” sem o “eu” desemboca no socialismo estatal e no coletivismo econômico. O equilíbrio entre o “eu” e o “nós” se encontra na democracia participativa que articula ambos os pólos. Ela acolhe o indivíduo (eu) e o vê sempre inserido na sociedade maior (nós) como cidadão.

Hoje precisamos de uma hiperdemocracia que valorize cada ser e cada pessoa e garanta a sustentabilidade do coletivo que é a geosociedade nascente.


* Leonardo Boff é autor de Do iceberg à Arca de Noé, (Garamond),Rio.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Empresas são Multadas por Causa dos Reciclaveis que Produzem

Leis de reciclagem criam conflitos com empresas
Tamanho da Fonte: Jornal Valor Economico


Prefeitura de SP multa grandes companhias por não cumprirem a lei que as obriga a recolher 50% de suas embalagens
Grandes companhias como Coca-Cola, AmBev, Petrobras e Shell foram multadas pela prefeitura paulistana por descumprirem a lei que obriga as empresas a recolher 50% das embalagens que usam em seus produtos. No Paraná, as quatro maiores fabricantes de lâmpadas do país - Philips, GE, Osram (Siemens) e Sylvania - acumulam dívidas de quase R$ 4 milhões cada uma por não darem a destinação correta a seus produtos.
Enquanto as secretarias de Meio Ambiente usam legislação local ou estadual para fustigar as empresas, os empresários argumentam que essas leis exigem mais do que seria razoável ou possível. As fabricantes de lâmpadas alegam, entre outras razões, que o custo para reciclagem de uma lâmpada pode ser até mais alto do que o de produção. No caso paulistano, "os percentuais de recolhimento são extremamente elevados", argumentam João Carlos Basílio da Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, e Luiz Carlos Dutra, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza (Abipla).
As multas de R$ 250 mil foram dadas, segundo Eduardo Jorge, secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, porque AmBev, Petrobras, Shell e Coca-Cola, apesar de notificadas no fim de agosto "sequer deram retorno". A lei paulistana, criada em 2002 e regulamentada só em 2008, afeta "empresas produtoras e distribuidoras de bebidas de qualquer natureza, óleos combustíveis, lubrificantes e similares, cosméticos e produtos de higiene e limpeza". Ela estabelece um cronograma progressivo de recolhimento: 50% da produção de 12 meses no primeiro ano de validade da lei, 75% no ano seguinte e 90% no terceiro.
"Nem nos países mais desenvolvidos da Europa as metas são tão altas", diz Maria Eugenia Proença Saldanha, diretora-executiva da Abipla. Para Helio Mattar, do Instituto Akatu, que prega o consumo responsável, a regra não é clara. "Tentei me colocar no lugar de um empresário que quisesse cumprir a determinação e não consegui encontrar uma maneira de fazer o recolhimento do jeito que a norma pede", diz.
As associações empresariais estão ajuizando medidas cautelares contra a Prefeitura Municipal no Tribunal de Justiça de São Paulo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A sustentabilidade perde para a crise e para a hipocrisia


Por Wilson Bueno*

A Semana de Meio Ambiente é o gancho jornalístico para um festival formidável de hipocrisias verdes, comemorações vazias e tentativas recorrentes de manipulação da opinião pública.

Todo início de mês de junho é a mesma coisa. Os veículos abrem espaços e tempos generosos para o meio ambiente, as empresas proclamam a excelência de sua gestão ambiental, os governos divulgam estatísticas favoráveis de desmatamento, pessoas bem intencionadas abraçam árvores e organizações poderosas exaltam o seu "footprint" zero. Vale isso?

É evidente que não, mas a hipocrisia empresarial e governamental é assim mesmo e não há ministro nem ONG que dêem jeito. Isso não quer dizer que não devemos botar a boca no trombone, repudiar a estratégia cínica do marketing verde e clamar por franqueza e transparência (e a Petrobrás como é que fica, hein?).

Reportagem especial publicada pela revista Exame (que nada tem a ver com os ambientalistas, muito pelo contrário, não é mesmo?) divulgou esta quinzena pesquisa demonstrando que a crise (que nem atingiu todo mundo da mesma forma) tem contribuído para que as empresas deixem de investir ou invistam menos em sustentabilidade, apesar do compromisso estabelecido nos balanços socioambientais, do discurso grandiloqüente de algumas campanhas publicitárias e dos releases cínicos que chegam aos montes às redações.

A Semana de Meio Ambiente é o gancho jornalístico para um festival formidável de hipocrisias verdes, comemorações vazias e tentativas recorrentes de manipulação da opinião pública.

As empresas e governos, cientes de que o meio ambiente vai estar na agenda , na pauta da mídia, se empenham em ocupar espaços e tempos, e acionam suas agências e assessorias para um esforço integrado em nome da sua imagem. Sabem eles que a sustentabilidade representa hoje um valor inegociável, mas incapazes ou não interessados em fazer a lição de casa, buscam caprichar no discurso ao mesmo tempo em que escondem a sujeira debaixo do tapete.

Pesquisa realizada pela PricewaterhouseCoopers em parceria com o Ministério da Indústria e Comércio, citada pela Folha de S. Paulo (28/04/2009, p.B10), evidencia que somente 17% das empresas brasileiras de grande porte têm inventário de emissões dos gases de efeito estufa. Este dado confrontado com a onda moderna do carbono neutro (como existe empresa "carbon free" de araque em nosso País!) mostra a desfaçatez de boa parte da comunidade empresarial que continua emporcalhando o ar, a água, o solo sem piedade.

Fatos recentes confirmam que estamos longe de um nível ao menos aceitável de sustentabilidade e que, na prática, continuamos caminhando para trás... e a passos largos. Vejamos alguns deles:

1) O Governo, segundo o Greenpeace, está investindo pesado no mercado de commodities agrícolas e, com isso, patrocinando, direta ou indiretamente, a devastação da Amazônia. Frigoríficos (Bertin, JBS e Marfrig) e supermercados (Carrefour, Pão de Açúcar Wall Mart), além de algumas empresas de prestígio (Adidas, BMW, Ford, Honda, Louis Vuitton, Gucci, Boss, Prada), acabam sendo financiados pelo BNDES que solta dinheiro por critérios eminentemente econômicos sem atentar para o impacto ambiental de suas benesses;

2) Estudo recente da Unicamp revelou a presença de um composto tóxico (PCB), cancerígeno, no leite materno das mães paulistas, mesmo estando a sua comercialização proibida há quase 20 anos. O PCB (policloretos de bifenilas) é usado em graxas, óleos lubrificantes, tintas de impressão e pesticidas e está associado a problemas de desenvolvimento e baixo nível de coeficiente intelectual;

3) Levantamento do Ministério da Agricultura (e olha que o Stephanes está longe de ter uma cara ao menos verdinha!) mostrou que quase 70% das criações de gados vistoriadas no Estado de São Paulo alimentam os bovinos com rações que incluem proteína de origem animal, com sérios riscos para a saúde humana. Isto quer dizer que esta história de boi verde é apenas para inglês ver e que a pecuária brasileira continua sendo a grande vilã da sustentabilidade, devastando a Amazônia e afrontando a segurança alimentar em toda parte;

4) A contaminação do milho tradicional pelo milho transgênico já é uma realidade e certamente o país acabará perdendo a vantagem competitiva que havia conquistado no mercado internacional, pois há importadores que não aceitam a semente geneticamente modificada. Enquanto isso, a CTNBio continua fazendo o jogo dos grandes interesses privados, apesar de sua propalada "competência técnica" e independência (é para rir ou para chorar?);

5) A Usina de Angra 2 teve no mês passado um acidente com material radioativo ( o que demonstra que ela está suscetível à falha humana) e só comunicou o ocorrido para a sociedade quase duas semanas depois, o que evidencia a falta de transparência da indústria nuclear. Aliás, não é de estranhar esta postura porque esta indústria se respalda na sua indisfarçável herança militar para sonegar informações de interesse da opinião pública. E tem gente pregando a construção de um montão de usinas para desespero dos moradores de Angra e arredores.

O meio ambiente no Brasil , apesar de espetáculos midiáticos aqui e acolá, continua sendo penalizado e ações concretas não vêm sendo tomadas na amplitude e intensidade necessárias para coibir os abusos. Fiscalização precária, lobbies formidáveis dos ruralistas (que querem agora detonar o Código Florestal e proclamar o "liberou geral"), omissão de governantes e ação predadora de segmentos confessadamente insustentáveis (mineradoras, agroquímicas, indústria de papel e celulose, madeireiras, siderúrgicas, empresas de biotecnologia e outras menos votadas), eis a dura realidade.

O problema que ninguém ousa atacar e que está no cerne da degradação ambiental é, na verdade, este modelo de desenvolvimento que se nutre de PACs demagógicos, que prioriza a ajuda a montadoras e bancos em detrimento das microempresas, que incentiva o agronegócio a qualquer custo e banca uma pecuária irresponsável. Um modelo que se apóia no consumismo, no desenvolvimentismo e que, ao contrário do que alguém pode interpretar, nada tem a ver com o PT ou o PSDB, mas com o discurso e a prática insustentável de todos os partidos.

O cenário dramático (os que banqueteiam à custa do meio ambiente são capazes de dizer que se trata de mais uma teoria da conspiração) não justifica comemorar a Semana do Meio Ambiente, mas nos estimula a resistir.

Vamos plantar árvores , vamos reciclar (mas também pagar dignamente os que catam lixo e não apenas favorecer as empresas que reaproveitam o material e continuam consumindo vorazmente os recursos naturais), vamos economizar água, energia e sobretudo estarmos vigilantes contra o assalto constante de governos e corporações.

Não devemos acreditar em quem fica gastando dinheiro a rodo para se proclamar sustentável (como a Vale gasta para dizer que é boazinha, vai ver que Freud explica!), não podemos nos deixar seduzir pela praga do marketing verde.

A sustentabilidade não é um apelo de marketing e muito menos uma vassourinha verde a ser utilizada para o processo sujo de limpeza de imagem. Na Semana do Meio Ambiente, vamos varrer da memória este cinismo e esta hipocrisia empresariais. E vamos fazer a nossa parte. Mãos a obra.

* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor da UMESP e da USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa. Editor de 4 sites temáticos e de 4 revistas. Artigo publicado na Revista Imprensa e reproduzido com autorização do autor.


(Envolverde/Ecoagência)